Auditoria conjunta reforçaria a concorrência no sector

Em entrevista ao Económico, o 'Managing Partner' da Mazars em Portugal defende que as novas regras da auditoria reforçam a concorrência e a transparência no sector. Mas lamenta que a regra da auditoria conjunta por duas firmas tenha caído face ao projecto original.

Em entrevista ao Económico, Luís Gaspar, managing partner da Mazars faz um balanço positivo da transposição das novas regras europeias da auditoria, que visam reforçar a transparência e a concorrência no sector.

No dia 17 terminou o prazo para a aplicação das novas regras da auditoria na Europa, que balanço faz dessa aplicação?

A reforma da auditoria na Europa é um passo fundamental para ajudar a restaurar a confiança nos mercados e nos agentes económicos, confiança essa que, por sua vez, é essencial para que exista uma dinâmica de crescimento das economias dos Estados-membros. A informação que temos é que a sua aplicação vai ser generalizada e isso é uma boa notícia, porque vai dar a oportunidade às empresas para melhorarem o controlo externo da sua informação financeira; porque vai permitir aos stakeholders das entidades reganharem confiança, pelo acesso a mais e melhor informação; e porque tornará possível uma maior capacidade de escolha, inovação e acesso ao mercado.

Como analisa a transposição que foi feita para Portugal?

A transposição da diretiva para a legislação portuguesa foi rápida – feita ainda no ano passado e é, em alguns aspetos, mais ambiciosa do que a proposta europeia, o que pode ser positivo. No entanto, considero que a legislação portuguesa ficou aquém do que podia e do que devia numa questão que é estrutural para o mercado, que é a da auditoria conjunta.

O que ficou por fazer, em sua opinião?

Devia existir uma aposta consistente na adoção da auditoria conjunta em Portugal, como aconteceu em outros Estados-membros. É um processo estabelecido com sucesso, por exemplo, em França, onde as empresas do CAC 40 estão obrigadas à auditoria conjunta. Esta prática reforça a independência do auditor, sobretudo no que respeita à aceitação devida de serviços distintos de auditoria, reduz o risco de familiaridade excessiva e reforça, também, a capacidade dos auditores defenderem a sua posição no caso de desacordo com a entidade.

Ou seja, o principio de ter mais do que uma auditora reduz as potenciais fragilidades que possam existir no processo de verificação e divulgação da informação financeira, aumenta a diversidade de agentes no mercado e, também, aumenta a competência, porque diferentes empresas reúnem diferentes capacidades.

Mas as novas regras tornam o mercado mais concorrencial, com a rotação obrigatória?

É verdade. A rotação obrigatória de sociedades de auditores e revisores oficiais de contas – aliada a obrigatoriedade de rotação de partners, que já existia – faz com que o mercado seja mais concorrencial, mas não contribui de forma perentória para a limitação ou eliminação dos entraves para acesso ao mercado.
Temos também de ter em conta que se trata de um processo que vai prolongar-se no tempo, já que a mudança só se torna obrigatória depois de três mandatos de três anos ou de dois mandatos de quatro anos. Ou seja, teremos um período de adaptação do mercado de oito ou nove anos e só depois poderemos perceber se existiu diversidade de players.

Considera que o mercado pode continuar fechado em torno das big four?

Sem a auditoria conjunta, dificilmente as firmas mais pequenas terão capacidade para competir com as big four, porque não terão oportunidade de construir massa crítica suficiente para disputarem mercado.
Isto traduz-se numa limitação efetiva das escolhas das empresas ou, mais corretamente, das entidades de interesse público, resulta, também, na falta de incentivo a uma maior qualidade da informação financeira divulgada; e, em última análise, em menores garantias para todos os stakeholders.

Quais são as vossas perspetivas para 2016, em termos de atividade?

A Mazars tem crescido sustentadamente em Portugal, o que mostra que o mercado tem reconhecido a qualidade do trabalho que temos desenvolvido. Em resultado dessa evolução muito positiva, temos aumentado a nossa capacidade e temos sido mais ativos e ambiciosos no mercado de recrutamento, identificando e cativando talento para continuarmos a prestar os melhores serviços aos nossos clientes.

Quais serão as principais áreas de evolução?

A estrutura única da organização que é a Mazars permite-nos oferecer aos nossos clientes serviços com níveis de exigência e qualidade idênticos em todos os mercados onde estamos presentes, mas geridos de forma centralizada, de acordo com a especificidade do cliente. Esta capacidade faz com que sejamos procurados pelas empresas portuguesas que implementam projetos de internacionalização, mas também que por empresas internacionais que estão a entrar em Portugal.

http://economico.sapo.pt/noticias/auditoria-conjunta-reforcaria-a-concorrencia-no-sector_252638.html