Bancos têm práticas responsáveis a várias velocidades

Os critérios ambientais, sociais e de “governance” (ESG) não são ainda totalmente integrados nas estratégias dos bancos, concluiu uma avaliação global sobre o modo como os bancos estão a incorporar a sustentabilidade nas suas práticas comerciais realizada pela Mazars. O estudo indica ainda que práticas bancárias mais responsáveis podem ser alcançadas se os bancos integrarem estes critérios na sua estrutura de gestão de risco e os medirem de forma mais eficaz.

Os resultados apresentados no relatório “Responsible banking pracrices: benchmark study 2020” revelam que apenas três dos 30 bancos avaliados demonstram as melhores práticas numa ampla gama de fatores de sustentabilidade, com dez bancos a revelarem uma abordagem sustentável em alguns fatores e mais de metade (17) dos bancos a apresentarem uma abordagem sustentável de carácter limitado na maioria dos fatores. 
não identificou nenhum banco como “excecional” - uma pontuação reservada aos bancos com uma pontuação positiva em mais de 90% dos critérios analisados. Os critérios de referência incluíram cultura organizacional e “governance”, gestão de risco, processos de monitorização, “reporting”, “targets”, entre outros. 
 
O relatório é apresentado num momento em que os bancos se encontram a refletir acerca dos seus propósitos e valores, à medida que novos movimentos sociais pressionam os agentes financeiros a investir não apenas de forma ambientalmente sustentável, mas também socialmente inclusiva. 
 
“A Covid-19 reafirmou o papel positivo que o setor bancário pode desempenhar, trabalhando com governos e reguladores para manter a economia a funcionar. Estes resultados devem relembrar aos bancos que a crise é uma oportunidade para olharem além das prioridades imediatas, reavaliarem os seus objetivos e valores e usarem algumas das melhores práticas descritas no nosso relatório para incorporar realmente fatores ESG na tomada de decisões sobre investimentos para o bem dos negócios, dos seus clientes e da sociedade”, afirma Lcila Kamdem-Fotso, Partner da Mazars
 
“Os reguladores esperam que o setor bancário desempenhe um papel fundamental no esforço de recuperação pós-Covid-19. Na Europa, encaram uma recuperação robusta como aquela que promove investimentos “verdes” e sustentáveis a longo-prazo, no sentido de garantir um futuro justo e resiliente para todos. Os resultados deste estudo mostram que alguns bancos estão a liderar o caminho, com a maioria a ter ainda algum trabalho a realizar para incorporar totalmente os fatores ESG nos seus processos de estratégia corporativa, governança c gestão de riscos”, acrescenta Virginie Mennesson, Head of Regulatory Affairs da Mazars no Reino Unido. 
 
Concentração nas questões socioeconómicas 
 
O inquérito constata que a maioria dos bancos adotou ou está a implementar padrões voluntários de relato sobre ESG, mas a maioria (57%) ainda não integrou totalmente estes fatores nos seus processos de gestão de risco, fazendo uso de abordagens qualitativas e quantitativas. 
 
Paralelamente, a maioria dos bancos apoiaram estruturas de sustentabilidade e lançaram programas de responsabilidade social, mas a definição e divulgação de metas de sustentabilidade não é ainda uma prática comum. E apesar de todos os bancos avaliados oferecerem produtos ambientalmente responsáveis, apenas 43% desenvolvem uma oferta de produtos que endereça verdadeiramente questões socioeconómicas. 
 
Metas e incentivos 
 
O relatório conclui que a introdução de metas explícitas poderia ajudar os bancos a aumentarem as suas conquistas no que respeita a ESG. Apenas 27% possuem um conjunto específico e mensurável de objetivos socioeconómicos em conformidade com estruturas de sustentabilidade. Por outro lado, apenas 13% dos bancos avaliados praticam incentivos financeiros associados à sustentabilidade para os seus cargos de Direção. 
 
Uma gama mais ampla de compromissos O relatório cita exemplos recentes de bancos que se encontram a tentar cumprir metas sociais. Por exemplo, o Barclays encontra-se a incorporar considerações acerca de direitos humanos no seu processo de “due diligence” de clientes. O Citi vai desenvolver um plano de ação ambiental e social como condição de financiamento quando existirem lacunas nos padrões internacionais e nas práticas ambientais e sociais de um cliente. O relatório faz igualmente referência à Goldman Sachs (que não foi um dos bancos avaliados) e que vai passar a aconselhar apenas as empresas em IPO onde exista um Conselho de Administração diversificado que comprove o esforço realizado nesta área. 
 
A maioria dos bancos ainda não incorporou totalmente os fatores ESG nos seus processos de estratégia corporativa, governança e gestão de riscos 
 
O Citi vai desenvolver um plano de ação ambiental e social como condição de financiamento 
 
Os reguladores esperam que o setor bancário desempenhe um papel fundamental no esforço de recuperação pós-Covid-19.

In Vida Económica

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