Mazars admite apostar na advocacia

O presidente da auditora, Luís Gaspar, mostra interesse em entrar na advocacia e acredita em concentração no sector.

À espera de um novo enquadramento legal, o grupo pondera seguir para o campo jurídico, como já o faz noutros países.

Num mercado em mudança, a francesa Mazars admite estrear novas áreas de negócio em Portugal, mais especificamente a advocacia, segundo confirmou ao Expresso o gestor nacional, Luís Gaspar. “Admitimos, mas não temos um modelo ainda definido. Estamos a pensar no que será melhor. A Mazars, nas geografias em que isso é possível, já oferece essa linha de serviço. Aqui, quando for possível, sim, é uma perspetiva”, responde, apontando para quando o enquadramento legal o permitir.

A aposta não tira, porém, a intenção de crescer no ramo de auditoria, aquele que deu origem ao grupo. “É natural que o mercado de consultoria cresça mais, mas não queremos que o peso da auditoria se reduza para baixo de um terço do volume de negócios”, segundo afirma.

Uma das áreas onde vê espaço para crescer é no ESG (questões ambientais, sociais e de governação), porque vai ter caminho não só na parte de auditoria como na consultoria. O que dá mais dinheiro? A consultoria; mas a revisão de contas é mais recorrente.
Há uma diretiva europeia que vai obrigar à certificação de relatórios de sustentabilidade e, embora haja quem já a faça, em 2023 será mesmo obrigatório para grande parte das entidades. “Nesses relatórios vamos validar tudo o que seja informação não-financeira. Isso significa ter um conjunto de competências diversificado em muitas áreas, na parte do ambiente, das pessoas, do equilíbrio profissional, do governo de sociedades... Estamos a procurar montar equipas com essas competências para podermos responder”, explica.
Mudanças que têm de ter em conta a dificuldade de contratar talento, que o líder português da Mazars identifica. “Há dificuldade em recrutar e em reter, sim, porque esta nova geração é diferente, procura coisas diferentes. O que o mercado paga é baixo, mas existe pressão para que os salários subam”, defende, acrescentando que não é esse, porém, o fator que mais dificulta essa procura de pessoal.

Reservas tiram clientes

Outro dos desafios pela frente é a recuperação da reputação. Num sector manchado por escândalos, a própria Mazars, nos EUA, rasgou com a Trump Organization, que está no centro de investigações judiciais. Sobre esse tema, Luís Gaspar nada acrescentou, argumentando que não tem conhecimento. Mas sobre a polémica em torno de auditoras acredita que é preciso mudar.
Estes acontecimentos não ajudaram a credibilizar a profissão e nós vamos ter de recuperar essa imagem”, declarou.
Na maior parte dos escândalos, vamos chamar-lhes assim, na origem estavam fraudes, e fraudes são fraudes. São atos preparados para não serem detetados.’
Se o trabalho de auditoria é mais uma validação puramente técnica ou mais um julgamento subjetivo, Luís Gaspar responde com um “depende”. O que sabe é que a conclusão a que chega pode penalizar: “Toda a gente já perdeu clientes por ter feito reservas e ênfases. Faz parte. Os clientes não gostam. Mas, repare, nós somos parceiros dos nossos clientes, ajudamos no que podemos mas não abdicamos da nossa opinião. Temos as nossas obrigações, temos uma função de interesse público no que tem a ver com a revisão.’9?
Luís Gaspar acredita que a profissão de revisor de contas precisa de recuperar a imagem e a reputação.

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