O Futuro da Auditoria

Quando confrontados com os avanços ao nível da inovação tecnológica e da automatização a que temos vindo a assistir, de tal forma significativa que não é desapropriado empregar a expressão progressão geométrica, poderíamos colocar a questão sobre quais os processos e tarefas que podem vir a ser alterados.

Provavelmente, a forma correta de nos questionarmos seria ao invés, que processos e tarefas não virão a ser passíveis de alteração e transformação no contexto da Auditoria? Uma boa base de partida para este exercício de reflexão, que certamente a profissão necessita, mas que em certa medida já iniciou, é que com a exceção do julgamento profissional por parte dos auditores, tudo o mais será passível de mudança.

Alguns autores consideram que a auditoria é das profissões com maior risco de substituição da força de trabalho por via, nomeadamente, da Inteligência Artificial e da robotização. Serão necessárias menos horas de trabalho no manuseamento de dados, já que as ferramentas analíticas, de hoje e ainda mais no futuro, podem fazer muito mais rápido e em dimensões muito maiores o que hoje é apenas executável com recurso a amostragem. Por esse motivo se discute já a análise de populações e não de amostras o que, naturalmente, introduz menos probabilidades de distorção nas análises, mas por outro lado vai exigir mais tempo de qualidade na análise dos dados agregados e das tendências que estes apontam, para o exercício do já referido julgamento profissional.

No tempo presente, e mesmo no passado recente, a auditoria, pelo menos em Portugal, vive num ambiente de pressão constante por parte do mercado para a redução de honorários, e claramente essa pressão só pode vir a ser respondida pela introdução de vetores de eficácia na execução do trabalho. Para tal, as inovações tecnológicas podem contribuir de forma muito significativa.

Numa outra dimensão, um outro aspeto muito relevante, no presente, mas também na sustentabilidade da profissão, é a capacidade, ou a falta da mesma, para atrair os jovens que estão para entrar no mercado de trabalho. Claramente que os desafios das novas tecnologias serão decisivos para atrair os novos auditores, pela apetência pelo desafio tecnológico, mas também pelo que isso pode proporcionar em temas tão prementes como o equilíbrio vida profissional/pessoal.

É expectável que as normas que enformam o trabalho de auditoria continuem a evoluir no sentido da exigência, mas naturalmente que serão também influenciadas pelas inovações tecnológicas acima debatidas. Estamos claramente numa fase de transição e como sempre o mercado tenderá a ajustar-se, mas percebe-se que será sempre preciso aliar a qualidade do trabalho com a eficácia do mesmo para que no futuro uma firma se consolide e seja bem-sucedida.

Não há duas respostas possíveis. A aposta tem de passar pela crescente introdução do Digital, nas suas várias vertentes, na vida das empresas de auditoria, mas essa adaptação tem hoje de ser feita a uma velocidade muito significativa, e é essencialmente este aspeto que pode colocar algumas entidades fora do mercado.

O contexto é difícil e exigente, mas tal não deve ser necessariamente percebido como um problema, devendo antes de ser encarado como uma oportunidade para mudar e crescer.

In Dinheiro Vivo https://www.dinheirovivo.pt/economia/o-futuro-da-auditoria-2/