Visão do CEO: a mudança cultural nas empresas

Face à mudança cultural que se experiencia atualmente no mundo empresarial, nomeadamente por conta da digitalização e da partilha de conhecimento, os dirigentes das empresas enfrentam desafios muito particulares.

As estratégias de liderança precisam de ser adaptadas a um contexto cuja única garantia é, precisamente, a mudança e a transformação. Simultaneamente, os CEOs deparam-se com novas exigências por parte dos consumidores e com a necessidade de implementar paradigmas disruptivos na gestão de talento.

Mais do que nunca, importa refletir conjuntamente sobre os modelos de liderança a integrar nas empresas, de forma a conseguir dar resposta às mais recentes demandas do mercado.

A mudança cultural na dinâmica das organizações

Luís Gaspar, Country Managing Partner da Mazars em Portugal, considera que este é o momento de colocar algumas questões em cima da mesa. Com os avanços ao nível da inovação tecnológica, as tarefas e os processos a alterar podem parecer infindáveis, mas é necessário avaliar aquilo que condiz com a roupagem de cada empresa. Ainda assim, independentemente do tamanho ou da profundidade das transformações a implementar, o dirigente mostra-se otimista.

Através do exemplo da Mazars, cuja dinâmica de atuação se desenrola em torno da gestão de informação financeira, Gaspar realça a inevitabilidade da substituição dos recursos humanos por tecnologia de inteligência artificial e por processos de automatização. Sendo expectável, também, que o número de horas de trabalho necessárias para garantir essa mesma gestão diminua. Entender estas previsões, já praticamente asseguradas, e saber analisá-las é fundamental para mitigar os efeitos menos bons que uma mudança cultural deste nível implica.

Numa outra dimensão, associada à sustentabilidade das organizações, surge a capacidade de atrair jovens talentos para o mercado de trabalho, através dos avanços tecnológicos e da flexibilização dos horários laborais. Atualmente, os melhores candidatos às vagas profissionais procuram não apenas empresas que garantam o sucesso e a prosperidade financeira, mas também a possibilidade de gerar uma maior equilíbrio com a vida pessoal e, simultaneamente, oportunidades de aquisição e desenvolvimento de novas skills.

O representante da Mazars em Portugal acredita que a aposta “tem de passar pela crescente introdução do digital, nas suas várias vertentes, na vida das empresas” e defende que essa é uma responsabilidade que cabe à liderança de topo. Trata-se de uma adaptação que tem que acontecer de forma acelerada e que, quando tarde ou mal feita, pode revelar-se um aspeto de ameaça à continuidade de algumas entidades no mercado.

Para Pedro Coelho, CEO da Safina, domínios como a digitalização e a partilha de conhecimento em suporte digital têm que integrar as prioridades da sua agenda. Enquanto chefes executivos, estes dirigentes devem, a seu ver, estar alerta para as questões mais sensíveis levantadas pela mudança cultural vigente. A segurança, a integridade, o funcionamento e a proteção de dados, sejam referentes a clientes, colaboradores, parceiros de negócios ou da própria atividade da empresa, são garantias que as organizações (e as suas lideranças) têm que estar preparadas para oferecer.

Portanto, o CEO moderno tem uma gestão empresarial que vai muito além dos objetivos naturais duma organização lucrativa. Há novos objetivos, que decorrem da expectativa e da exigência da sociedade, do consumidor, do trabalhador e do mercado, bem como novas demandas legais. Nesse sentido, é fulcral que se desenvolvam estratégias que mantenham a empresa competitiva, funcional e ágil no “ambiente globalizado”, de modo a satisfazer a sociedade e todos os stakeholders.

O dirigente da Safina considera que, para esse efeito, o CEO necessita de ter “uma visão holística da sua envolvente no curto e médio prazo”.

Resiliência, sempre

As empresas precisam de ser resilientes perante os desafios modernos, mas é também essencial que os líderes saibam cultivar e orientar essa resiliência, nomeadamente os CEO’s. Tal como relembra Pedro Coelho, a rápida variabilidade do meio empresarial atual, bem como a incerteza e a imprevisibilidade, colocam desafios que podem gerar crises de stress às equipas. Desta forma, é importante que os colaboradores estejam conscientes do momento que se vive e preocupados com o normal funcionamento da sua organização.

A visão, a postura e a ação do CEO deve ser “o farol” da sua organização e das suas equipas.

Luís Gaspar concorda totalmente com esta visão. Considera, inclusivamente, que a capacidade que uma organização tem de unir a sua equipa em torno de um objetivo comum pode suportá-la em momentos de crise e assegurar a sua sobrevivência e crescimento. Num contexto de adaptação a novos desafios e de reorientação de negócio, cabe à liderança ajudar a criar as condições para tornar os seus profissionais mais resilientes.

O representante da Mazars em Portugal defende que os líderes devem investir na criação de confiança, “esclarecendo os papéis e responsabilidades dos seus colaboradores”, fortalecendo a sua autonomia e promovendo uma cultura de estabilidade. Esta estratégia deve integrar ações complementares para estabelecer metas e processos claros, apresentar uma estrutura global de resposta a crises, enfatizar os pontos fortes e as vantagens originais da oferta e criar a oportunidade para que os colaboradores possam desenvolver e alavancar as suas competências e desenhar novas soluções, “a par de uma aposta na diversidade e na inclusão”.

A liderança tem a obrigação de disponibilizar toda a informação relevante aos profissionais, principalmente face a um obstáculo. Depois, devem participar na definição de respostas possíveis, à medida que se implementa um plano compreendido e partilhado por todos e se introduzem momentos de monitorização, reflexão e reorientação.

Fonte: https://www.apd.pt/visao-do-ceo-a-mudanca-cultural-nas-empresas/