Mazars estudou 37 bancos e concluiu que 82% têm produtos que respeitam os temas ambientais e sociais

O estudo global avalia as práticas de sustentabilidade em 37 dos maiores bancos mundiais localizados na Europa, África, Américas e Ásia-Pacífico. A percentagem média de bancos que desenvolveram uma oferta de produtos responsáveis é agora de 82%, em comparação com 47% no ano anterior.

A consultora Mazars realizou um estudo que revela progressos nas finanças sustentáveis da banca a nível global.

Foram avaliados 37 bancos localizados em África, Américas, Ásia-Pacífico e Europa  ao nível da identificação de melhores práticas e tendências na forma como gerem riscos relacionados com alterações climáticas, e questões sociais e de governo mais amplas. Os bancos selecionados são os maiores nas suas respetivas geografias, com base no total de ativos.

A percentagem média de bancos que desenvolveram uma oferta de produtos responsáveis é agora de 82%, em comparação com 47% no ano anterior.

A análise global mostra que a maioria dos bancos avaliados promovem uma cultura de sustentabilidade e alocam a responsabilidade por esta matéria a funções mais seniores. Em média, 74% dos bancos já implementaram medidas que promovem uma cultura de sustentabilidade e adaptaram as estruturas de governo, em comparação com 49% no ano anterior. No entanto, a integração de competências ESG (Environmental, Social, Governance) na seleção da composição dos governos e a medição do desempenho dos critérios ESG na definição da remuneração continuam a ser práticas pouco frequentes.

O estudo revela também que os bancos analisados assumem um compromisso com objetivos de sustentabilidade SMART, com prevalência das metas relacionadas com ambiente. As metodologias para alinhamento estratégico com o Acordo de Paris ganharam força e cerca de 51% dos bancos estão a testar a metodologia PACTA (Paris Agreement Capital Transition Assessment) para alinhar suas carteiras financeiras com os objetivos do Acordo de Paris. No entanto, isso ainda não se refletiu nos compromissos oficiais dos bancos com a neutralidade climática.

Outra das conclusões é que os bancos têm práticas de gestão de risco mais avançadas para riscos climáticos do que para riscos ESG mais amplos – com a maioria dos recursos de análise de cenários climáticos construídos. No entanto, continua a ser um desafio medir o impacto financeiro das alterações climáticas sobre os bancos devido à falta de informações quantitativas. Apenas 22% dos bancos fornecem dados quantitativos sobre a materialidade dos riscos climáticos.

Por outro lado também implementam standards de relatórios de sustentabilidade, principalmente com foco em objetivos climáticos, sendo as recomendações do CDP (Carbon Disclosure Project) e TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) as mais comuns. Em termos de métricas e metas, as emissões de GEE (Gases com Efeito de Estufa) são as mais reportadas. Um dos principais desafios dos relatórios continua a ser as emissões Scope 3 GHG (Greenhouse Gases); apenas 11% dos bancos divulgam informação relacionada com as suas atividades de financiamento.

Os bancos analisados “têm uma oferta empresarial mais madura do que a oferta para clientes particulares, e os produtos climáticos e ambientais são mais prevalentes do que produtos económicos e sociais”, diz a consultora. Por exemplo, 78% dos bancos desenvolveram uma oferta de ‘green bonds’, enquanto apenas 32% desenvolveram produtos verdes para clientes particulares. Comparar a oferta dos bancos continua a ser um desafio devido à falta de estruturas de relatórios padronizadas.

Estas são as conclusões do estudo da Mazars, empresa internacional de fiscalidade, auditoria e consultoria, que lançou a edição de 2021 do seu estudo de benchmarking “Práticas responsáveis na banca”. Em suma, os bancos fizeram progressos em todas as dimensões das finanças sustentáveis avaliadas desde a edição de 2020 do mesmo estudo. A percentagem média de bancos que estão a desenvolver uma oferta de produtos responsáveis é de 82%, o que compara com 47% no ano anterior.

“Comparando os resultados recentes com o nosso assessment de 2020, os bancos fizeram progressos relacionados com as finanças sustentáveis em todas as dimensões analisadas”, diz a Mazars.

Os bancos que promoveram uma cultura de sustentabilidade e atualizaram as suas estruturas de governo em conformidade aumentou para metade (51%), embora haja um aumento semelhante (45%) na percentagem de bancos que alinharam as suas divulgações com os padrões de relatórios ESG.

Mas existem desfasamentos claros em áreas como a incorporação de critérios ESG e climáticos em estruturas de gestão de risco e implementação de estratégias de sustentabilidade (aumento de 22% e 20%, respetivamente).

A análise demonstra que o setor bancário reconhece amplamente as oportunidades e riscos relacionados com as questões da sustentabilidade. No entanto, a implementação total de práticas projetadas para atingir objetivos sustentáveis está ainda em fase de desenvolvimento.

Luís Gaspar, Managing Partner da Mazars em Portugal, confirma em comunicado que esta é uma tendência também verificada no mercado nacional: “Estamos perante uma transformação da cultura financeira, à medida que este tipo de preocupações se torna cada vez mais urgente. A expetativa é que todas as organizações, particularmente aquelas que possuem um impacto significativo na economia ou uma atividade de interesse público, implementem processos que assegurem o respeito para com temas ambientais e sociais. Tal é visível nos clientes do setor financeiro com os quais trabalhamos em Portugal e torna-se algo a considerar quando equacionamos as suas necessidades e as soluções a serem disponibilizadas”.

Para Leila Kamdem-Fotso, Partner da Mazars “não há dúvida que os bancos estão a tornar as suas práticas mais sustentáveis e que têm vindo a fazer progressos desde o nosso primeiro estudo. Os resultados são encorajadores, mas revelam também algum trabalho por realizar”.

A responsável pelo estudo diz que “os bancos precisam de implementar práticas relevantes, particularmente as relacionadas com a gestão dos riscos climáticos e divulgações, isto se querem cumprir com os objetivos de sustentabilidade. Uma forma de fazer isso é melhorar as metodologias e quantificar melhor os impactos relacionados ao clima incorridos nos seus relatórios. Desenvolvimentos positivos nesta área podem permitir que os bancos desempenhem plenamente o seu papel na formação de um futuro mais sustentável para a economia global.”

In Jornal Económico